quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Niemeyer

Um revolucionário, nascido em 1907, começo do século passado, que acreditava que a função da forma é a beleza. Um homem que superou a teoria e todos os dogmas de uma escola arquitetônica para transformar arquitetura em arte.


O maior dos arquitetos brasileiros se achava velho aos 50 ao mesmo tempo em que construía um novo conceito de arquitetura em uma época em que o país queria ficar maior que o próprio Brasil.

Palácio da Alvorada, uma de suas obras mais marcantes

Ele mudou a maneira de enxergar arquitetura, de levantar uma coluna cheia de curvas, de explorar a forma. Deixou marcar indeléveis no século XX: mais de 600 prédios, palácios, residências, templos e monumentos ao redor do globo levam sua assinatura. Niemeyer foi um comunista desde sempre, até o fim de seus dias: "Fui sempre um revoltado. Da família católica eu esquecera os velhos preconceitos, e o mundo parecia-me injusto, inaceitável. Entrei para o partido comunista, abraçado pelo pensamento de Marx que sigo até hoje", disse o mestre em 2006.

Oscar nasceu em 1907 e ao longo de sua vida viu muita coisa, absorveu todo tipo de alimento para sua criatividade. Viu 2 guerras mundiais, a chega do homem à lua, a ascensão da república, a arte moderna, a TV em cores, os computadores... e não só viu, como, ao lado de Lucio Costa e sob a batuta de Juscelino Kubitscheck, fez Brasília nascer.

Projeto de Brasília


Oscar Niemeyer e Juscelino Kubitscheck
Câmara e Senado, em Brasília

Seu traço é carregado de um estilo próprio, desenvolvido, pensado, idealizado através da junção de política e estética. Influenciado pela arquiteto franco-suíço Le Corbusier, Niemeyer entendeu a necessidade da funcionalidade máxima, onde predominam a austeridade, a simplicidade, a lógica e a separação dos espaços de trabalho e lazer, e acrescentou seu toque pessoal às obras: a beleza.
"Não é o ângulo reto que me atrai. Nem a linha reta, dura, inflexível criada pelo homem. O que me atrai é a curva livre e sensual. A curva que encontro nas montanhas do meu país. No curso sinuoso dos sentidos, nas nuvens do céu. No corpo da mulher preferida. De curvas é feito todo o universo", argumentou sobre o Copan, prédio construído em 1951 no centro de São Paulo.

O lendário Copan, no coração de São Paulo



Diante de suas obras é impossível ficar indiferente. Ou você ama, ou não.
Claro que ele não é unanimidade entre os que apreciam arte, nem entre os que adoram a arquitetura. Niemeyer conquistou uma legião de fãs, sim, mas também existiram muitos contra sua forma de pensar e trabalhar. 

Como ele próprio se descrevia, era um homem sem nada de extraordinário: "Diria que é um ser humano como outro qualquer – que nasceu, viveu e morreu. Sou um homem comum – que trabalhou como todos os outros. Passou a vida debruçado sobre uma  prancheta. Interessou-se pelos mais pobres. Amou os amigos e a família. Nada de especial. Não tenho nada de extraordinário. É ridículo esse negócio de se dar importância", dizia o arquiteto.

"Cem anos é uma bobagem, depois dos 70 a gente começa a se despedir dos amigos. O que vale é a vida inteira, cada minuto também, e acho que passei bem por ela"
Em 2007, em entrevista aos 100 anos.



Ele se foi hoje, dia 5 de dezembro, 10 dias antes de completar 105 anos. É cedo para dizer já vai tarde, e um pouco tarde para imaginar que é cedo. O seu legado fica, como tem que ser. É assim que o mundo tem que ver o Brasil, imaginativo, belo e cheio de curvas que inspiram.

E um vídeo que eu recomendo muitíssimo é um especial lançado no centenário de Niemeyer pela revista Arquitetura & Construção. O mestre abre seu coração e sua casa para a então diretora de redação da publicação, Lívia Pedreira, e mostra quem foi Oscar, um homem cheio de ideologias.

Assista um pedacinho aqui: