A Bienal do Livro de São Paulo encerrou no último dia 19 deixando aquele gosto de quero mais. Leitura é um hábito que poucos conseguem manter nos dias atuais, sempre arranjamos umas desculpas. É ou não é verdade? _Ah, tô cansado demais, nao quero nada que me faça pensar; ou _Com esse monte de revistas pra ler onde vou achar tempo pra ler um livro?; ou ainda, o famoso _Leio tudo na internet. Mas ler é viajar, ler é descansar a mente e se deixar transportar para outras dimensões, é viver outras vidas, ter outras preocupações, outros desejos, outros amores. Ler é bom demais.
E uma das coisas mais legais da Bienal é despertar nas crinaças a vontade de devorar livros, começando sempre pelos gibis. Ziraldo é figurinha carimbada nesses eventos, assim como o pai da Mônica, Maurício de Souza. Eles são apenas 2 dos responsáveis por criar um exército de leitores nesse país. Entre os outros, podemos encher a boca pra falar, estão os grandes homenageados da feira, Jorge Amado e Nelson Rodrigues.
O post de hoje vai para todos os amantes, os loucos de pedra, os cornos, os intensos. O post de hoje é sobre o maior dramaturgo desse país, o cara que escreveu 17 peças, centenas de contos e 9 romances. O post de hoje é todo dele, Nelson Rodrigues, o maior dramaturgo do Brasil.
Nascido em Recife em 23 de agosto de 1912, Nelson tem em seu centenário a premissa de uma obra imortal. Diferentemente de outros tantos autores, ele não perecerá no limbo do esquecimento. Em 68 anos de vida, Nelson Rodrigues fecundou nossa dramaturgia. Ele captou o que o brasileiro falava e inventou o teatro com a peça Vestido de Noiva, numa
linguagem habitual e conhecida do grande público, a língua brasileira
como se fala. Devassou e seduziu a nova classe média com seus
personagens que mostram o que o brasileiro é de fato, e não o que
gostaria de ser. Suas personagens escancaram facetas que tentam esconder as taras, a guerra conjugal, as vergonhas familiares, o preconceito, a sexualidade, a mesquinhez patológica, o adultério. Nelson dizia que "Se todo mundo conhecesse a vida íntima de todo mundo, ninguém cumprimentaria ninguém". Gênio.
Seu humor ferrenho atingia inimigos, desconhecidos, e até amigos. Um exemplo da não existência de limites para seu sarcasmo é a peça "Bonitinha, mas Ordinária", que na estreia teve como nome alternativo "Ou Otto Lara Resende", também jornalista e escritor, que de tão surpreso, ficou semanas sem falar com Nelson, seu amigo além da vida e da morte, na usina de superlativos.
Otto costumava dizer que Nelson Rodrigues era um profundo individualista e vivia da emoção coletiva.
A crítica de teatro Bárbara Heliodora acredita que pelo menos 4 peças de Nelson Rodrigues serão imortais, como ocorre com a obra de Shakespeare: Vestido de Noiva, Boca de Ouro, A Falecida e Beijo no Asfalto. Nelson está tão presente que não passa 1 ano sem que alguma de suas peças esteja em cartaz, com novo grupo de teatro, com atores experientes e com adoradores do dramaturgo.
Você pode conferir sua obra nos livros autorais ou naqueles que assinava com o pseudônimo devasso de Susana Flag ou até sob outras camuflagens, e no teatro:
- Os Sete Gatinhos
Teatro de Arena Eugênio Kusnet- São Paulo/SP
- O Beijo no Asfalto
Teatro de Arena- São Paulo/SP
- Dorotéia (com Alinne Moraes)
Teatro Raul Cortez- São Paulo/SP
- Nelson Rodrigues 100 anos
Unidades Sesi-São Paulo/SP
- Leituras dramáticas e debates
Centro Cultural Fiesp- Ruth Cardoso- São Paulo/SP
- Boca de Ouro (com Marco Ricca)
Teatro do Sesi- São Paulo/SP
- A Falecida (com Maria Luisa Mendonça)
Teatro do Sesi- São Paulo/SP
- Rodriguianas: Tragédias para rir
CCBB- São Paulo/SPE amanhã vamos celebrar os 100 do nascimento dessa figura relembrando algumas de suas pérolas, como "Amar é ser fiel a quem nos trai" ou "Tarado é toda pessoa normal pega em flagrante".