quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Vhils

Grafite sem spray? Sem tinta? Como isso?
Entenda melhor como funciona a mente e as obras do artista português Alexandre Farto, o Vhils.

O cara usa martelos e explosivos, restos de madeiras, de cartazes, retratos, metal enferrujado para transformar locais em ruínas em verdadeiros pontos turísticos urbanóides. Existem trabalhos seus espalhados com várias cidades ao redor do mundo, como Lisboa, Porto, Londres, Moscou, Bogotá, Medelin, Cali, Nova York, Los Angeles e Grottaglie.

Com apenas 25 anos  de idade, Vhils, como é conhecido no meio do grafitti, já é um artista muito respeitado. Sua imaginação é o mundo que o envolve e o leva a explorar caminhos dentro da ilustração, animação e design gráfico, numa mistura de ilustras a mão livre com estilo vetorial que aliam formas constratadas e sujas. A cidade é sua principal motivação, suas transformações, o concreto invadindo o espaço da natureza.

Vhils expõe as entranhas de uma parede, descobrindo as camadas de pedra que a formam numa referência clara às camadas que formam pessoas, e que formam cidades. Cidades que ele humaniza ao dar-lhes uma cara, um rosto que podemos encarar. É a construção da destruição, a mesma coisa que, inconscientemente fazemos com o meio onde vivemos, influenciando as coisas.

O projeto Scratching the Surface, segundo o próprio autor, Alexandre Farto, arranha a superfície para descobrir o que está por trás dela, eliminando as camadas de ruídos que se formam e nos afastam uns dos outros: "Se escavarmos todas essas camadas sobrepostas quase conseguimos ver a história daquele lugar". Ele ainda acrescenta: "Quando se leva este tipo de trabalho para outros pontos do mundo é uma reflexão sobre isso mesmo: a velocidade a que o desenvolvimento evolui. E depois disto ninguém sabe o que vai acontecer, todos caminhamos sem saber o que vem aí, nem aonde queremos chegar."

É como uma janela para ver algo que está atrás, por isso, em vez de adicionar mais uma camada à cidade, começou a retirar, nessa espécie de escavação arqueológica. 

A fama não tardou a se espalhar. Seu trabalho que retrata rostos de duas mulheres que olham em direções opostas foi capa do The Times britânico. A BBC chamou o jovem artista de Bansky Português; o The Telegraph, de Andy Wall-Hole. O The Guardian elegeu sua obra como uma das 10 melhores street arts do mundo e ele já expôs na Galeria Lazarides, a mais prestigiada de street art do mundo. Além dela, outras duas galerias o representam, a lisboeta Agência de Arte Vera Cortez e a Magda Danysz, de Xangai.

"Quando não há intervenção das pessoas no espaço público, os lugares tornam-se estéreis. O espaço público deixou de ser visto como espaço de interação, de comunicação, de discussão, de enriquecimento, de diálogo.", afirma Vhils. "Ali ficará um rosto que não nos olha diretamente, mas que nos faz olhar para nós, e também em volta. Porque uma rua movimentada pode ser muito mais do que o caminho que se percorre, no trânsito, de casa para o trabalho e, outra vez, de regresso à casa".